A confiança é frequentemente apontada como a base de qualquer relacionamento saudável. Mas o que acontece quando ela se confunde com controle? Em alguns casos, a confiança é buscada não como um espaço de liberdade mútua, mas como algo que precisa ser constantemente provado, vigiado e validado. Olhar o celular do parceiro, verificar mensagens, rastrear movimentos: essas atitudes podem trazer uma sensação momentânea de segurança, mas será que realmente constroem confiança?
Do ponto de vista fenomenológico, a confiança não é algo que se impõe ou se exige. Ela é vivida como um modo de estar no mundo com o outro ? uma entrega que envolve risco, incerteza e vulnerabilidade. Quando tentamos controlar o outro para "garantir" a confiança, acabamos criando uma armadilha: acreditamos que estamos nos protegendo, mas, na verdade, minamos a liberdade necessária para que o amor floresça.
Esse paradoxo é bem representado no "paradoxo do ciúme" de Sissa, que diz: "Precisamos amar a fim de ter ciúme, mas, se amamos, não deveríamos tê-lo." O ciúme, muitas vezes, nasce do medo de perder o outro, um medo que só existe porque há amor. Mas o mesmo amor que dá origem ao ciúme deveria ser capaz de confiar e acolher a liberdade do outro. Quando o controle entra em cena, ele se torna uma tentativa de eliminar a insegurança, mas, ironicamente, acaba sufocando o amor e alimentando ainda mais o ciúme.
Na prática, isso significa que nenhuma medida de controle ? como acessar o celular ou monitorar redes sociais ? pode realmente garantir fidelidade ou evitar uma possível traição. O que se garante com essas atitudes é, muitas vezes, uma falsa sensação de segurança, construída sobre um terreno frágil. Afinal, a confiança verdadeira não depende de provas externas, mas de um acordo interno e mútuo entre os parceiros.
Na terapia de casal, esse é um tema recorrente. É comum que os casais cheguem presos nessa armadilha, buscando soluções imediatas para restaurar a confiança perdida. Mas, na perspectiva fenomenológica, a reconstrução da confiança começa pelo reconhecimento da liberdade do outro. É um exercício de abandonar o controle e aceitar a vulnerabilidade inerente a qualquer relação amorosa. Isso não significa ignorar sinais de desrespeito ou negligenciar sentimentos de insegurança. Pelo contrário, é um convite para explorar juntos o que esses sentimentos revelam sobre o relacionamento. Quais são os medos não ditos? O que falta para que a segurança emocional seja fortalecida de forma genuína?
A confiança verdadeira exige coragem, porque implica abrir mão de garantias. É um risco, mas também uma escolha que pode libertar o casal da lógica desgastante do controle. Quando nos permitimos confiar sem a necessidade de vigiar, criamos um espaço para o amor crescer em sua forma mais autêntica: livre, recíproco e respeitoso.
Olá! Sou psicóloga clínica atuante em consultório particular em Ribeirão Preto - SP, onde ofereço Psicoterapia Individual e de Casal nas modalidades presencial e online, e Supervisão Clínica para psicólogos na perspectiva fenomenológico-existencial. Conto com ampla experiência no trabalho com questões familiares, amorosas, terapia de casal e enlutamento.
A terapia de casal é indicada para resolver conflitos, melhorar o diálogo, trabalhar na confiança e conhecer melhor o outro, entre outras questões que envolvem um casal.No processo de terapia de casal são promovidas reflexões sobre a vida amorosa dentro de um setting
terapêutico, exercendo as intervenções de forma ética, sigilosa e sem julgamento moral diante
das dificuldades enfrentadas.
Psicóloga Clínica - CRP 06/129895
Especialista em Psicologia Clínica ( CRP/CBM)
Mestre em Psicologia (UFTM)
Doutoranda (USP)